Integração, Inovação e tudo o que você precisa saber sobre Gestão
Se você é “de RH”, ou se você é “de TI”, ou de “qualquer outra área”, desculpe, mas você não entende nada de gestão empresarial.
Não somos nós que estamos dizendo, e sim um administrador considerado um dos melhores professores de gestão do mundo: Rivadávia Drummond, que foi um dos convidados do webinar realizado por Qualitor e Consulpaz no dia 06/08, ao lado de Fernando Torelly e Fernando Barros Barreto.
Para Rivadávia, que é Professor na WP Carey School of Business da Arizona State University (EUA) e professor associado na Universidade Politécnica de Hong Kong, a integração é parte fundamental do bem gerir. “No Brasil, existe a cultura de separar as coisas, ou seja, inovação, tecnologia, recursos humanos, administração e outros setores não se integram. Por exemplo, quem é da TI não entende nada de administração e vice-versa. Não vejo como separar isso”, comentou.
De acordo com ele, toda organização precisa entregar crescimento ano após ano e só tem uma forma de fazer isso, que é por meio da inovação e integração dos processos. Porém, também é preciso rever o conceito de inovação.
“Fomos treinados para gerir com linearidade, certezas. E o que se vive agora é um ambiente de incertezas, no qual é preciso reaprender, analisar insights e tomar decisões muito rapidamente. Em momentos de enfrentamento, o planejamento estratégico, a pesquisa de mercado, não são recursos suficientes. Como pesquisar mercados que ainda não existem?”, questionou.
O CEO do Hospital do Coração (HCor – São Paulo), Fernando Torelly, concordou. “As empresas que montaram seus planejamentos estratégicos e fizeram estudos de cenários, tiveram que descartá-los. O safety car entrou na pista e voltamos todos à mesma linha de largada. O modelo de organização mudou e o antigo não volta mais. Se hoje a instituição não compartilhar todas as informações de forma transparente e não envolver todo mundo como protagonista, não conseguirá gerir de forma eficiente. Na nova largada, o vencedor de hoje poderá ficar para trás, e outros, que souberem como gerir o novo, poderão assumir a ponta”, diz.
Segundo Torelly, é hora de rasgar o organograma. “Este esquema de gestão baseado em hierarquia não cabe mais. É preciso trabalhar em rede, onde todos que fazem parte da organização podem ser CEOs em algum momento, tomando as decisões necessárias para seus campos de atuação, para as situações que gerenciarem”, destacou.
Já para o superintendente Geral na AESC - Associação Educadora São Carlos, mantenedora do Grupo Hospitalar Mãe de Deus, Fernando Barros Barreto, afirmou que a inovação é muito mais um processo do que uma atividade. “É uma atitude, não apenas um novo produto. E a grande dificuldade da inovação é trazer toda a instituição junto com você. Ou seja, não adianta o executivo ser inovador se o resto da organização não vem junto”, revelou.
Mas há um efeito colateral do bem em meio ao caos pandêmico, segundo Barreto: o fato de ter trazido às instituições um espírito de “fazer diferente”, inovar. “Jogamos fora tudo que conhecíamos, recriando processos de gestão e formas de trabalho, e alavancando tecnologias de um jeito muito diferente do que se fazia tradicionalmente. Acabamos fazendo isso sem querer diante desse novo contexto. Sendo assim, aquele modelo vertical de organização acabou”, acredita.
Em se tratando de tecnologia, os Fernandos de nosso webinar são unânimes: é muito necessária no setor de saúde, e a interação TI/Gestão só tende a aumentar. Sem jamais descartar o fator humano.
“A saúde é um dos únicos setores em que a automação não substitui seres humanos. Ao contrário: se compramos uma máquina, precisamos contratar mais gente para operá-la. Utilizamos Inteligência Artificial, robotização, em diversos processos, mas o fator humano é sempre primordial”, comentou Torelly. “O mais importante é entender que, dentro da cultura digital assertiva, os hospitais não substituíram pessoas por equipamentos, ou seja, é gente cuidando de gente”, complementou Barreto.
Conforme os gestores de saúde, é diante da certeza de que as pessoas são diferentes umas das outras em suas necessidades de cuidado e saúde que reside o futuro do setor. “Precisamos mudar o modelo atual, em que a receita dos hospitais provêm de tratar doença, e passar a um modelo no qual, cada vez mais, se tenha foco no cuidado com a saúde, na prevenção, no evitar que adoeça”, destacou Torelly, acrescentando que, neste contexto, o cuidado de cada pessoa com o próprio corpo e mente é fundamental.
O professor Rivadávia complementa: no Brasil, há, ainda, que se pensar a evolução de campos como a saúde, educação e outros frente à desigualdade social. “Pensar nas pessoas, na economia, de forma dinâmica, liberal, é preciso. Mas isso nem de longe significa deixar de pensar a desigualdade social, que é um problema a ser resolvido. Você precisa dar oportunidade para que as pessoas possam desenvolver seus potenciais”, comentou.
Um tema que também passa pela tecnologia. Segundo o professor, é preciso acabar como “puxadinho digital”. “Por exemplo: pensar que EAD é só Zoom e Google Class é muito limitado! Há inúmeras possibilidades nisso”, ressaltou.
E, voltando à tônica principal do debate – a gestão -, Riva é incisivo: não há como gerir sem integração. “Problemas organizacionais não respeitam barreiras funcionais”, disparou. Complementado por Barreto: “Em nossa organização, temos área de saúde, de educação. São milhares de profissionais trabalhando. E, hoje, são mais de 2 mil pessoas se comunicando, gerando e gerindo demandas por meio de uma ferramenta, uma tecnologia que mudou nossa forma de interagir e de gerir. A integração é o que nos garantirá sobrevivência”, finalizou.